DISGRAFIA
Disgrafia é o nome dado a um distúrbio de aprendizagem de origem neurológica, cuja principal característica está na dificuldade persistente na capacidade de escrever de maneira clara e organizada. Esse transtorno causa alterações na estruturação das palavras, ou seja, indivíduos com disgrafia frequentemente enfrentam dificuldades em expressar suas ideias por escrito devido às dificuldades em controlar os movimentos necessários para formar as letras.
Na disgrafia, os sintomas são muito relacionados ao ato motor: traços muito grossos ou finos, pequenos ou grandes, letras separadas ou ilegíveis, dificuldade em usar lápis ou caneta, letras trêmulas, borrões e desorganização geral no papel são alguns dos sinais.
A disgrafia está enquadrada no mesmo grupo que outros distúrbios de aprendizagem, como a dislexia, que afeta principalmente a leitura, e a discalculia, que afeta a interpretação dos números.
Sintomas
Os sintomas da disgrafia englobam uma série de características, tais como:
- Dificuldade em manter um traço contínuo durante a escrita;
- Letras mal formadas;
- Tamanhos desiguais das letras;
- Espaçamento irregular entre palavras;
- Ortografia inconsistente;
- Lentidão no processo de escrita;
- Dificuldade em desenhar;
- Letras trêmulas;
- Escrita ilegível;
- Dificuldade em usar lápis ou caneta.
O diagnóstico desse transtorno requer a presença de vários sintomas, visto que estes impactam de forma significativa a capacidade de escrita do indivíduo.

Avaliação e Diagnóstico
O diagnóstico de disgrafia é processual. Para que essa seja uma hipótese levantada, o paciente/aluno em questão precisa estar alfabetizado e apresentar pelo menos três dos sintomas mencionados acima, por um período superior a seis meses. Além disso, é preciso que esse indivíduo — que pode ou não ser uma criança — apresente dificuldades em obter bom desempenho escolar ou desenvolver adequadamente qualquer tipo de habilidade que envolva a escrita. Na maioria das vezes a hipótese diagnóstica começa na escola. Os educadores podem identificar as dificuldades da criança e encaminhar suas observações para os pais e/ou responsáveis. Inicialmente, a família deve procurar um médico neurologista para que se faça exames e descarte quaisquer outras possibilidades de diagnóstico e, assim, encaminhe essa criança para acompanhamento terapêutico com psicopedagogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e psicólogo. Juntos, essa equipe vai desenvolver alguns testes e estratégias para avaliar possíveis causas para esse comportamento e, assim, fechar o diagnóstico de disgrafia.
Para avaliar de forma processual a hipótese diagnóstica da disgrafia, a equipe deve adotar algumas abordagens de avaliação, como:
- Análise da escrita espontânea;
- Ditado de palavras e frases;
- Avaliação da escrita de palavras isoladas e textos complexos;
- Realização de testes específicos de habilidades de escrita, tais como:- Velocidade de escrita, precisão na cópia de textos, identificação de padrões de erros e organização textual.
- Avaliação emocional (buscando traumas e bloqueios na esfera da escrita)
- Avaliação motora da coordenação global e fina
- Utilização de adaptação de lápis e caneta
- Interpretação de texto
- Compreensão de ordens simples e complexas
Um aspecto fundamental na análise é a observação do processo de escrita do aluno. A equipe deve atentar-se à forma como o aluno planeja, elabora e revisa seu texto, identificando possíveis dificuldades em cada etapa. Além disso, é importante considerar o contexto no qual as dificuldades de escrita se manifestam, incluindo fatores emocionais, sociais e cognitivos. Por exemplo, ao analisar a escrita de um aluno com hipótese diagnóstica de disgrafia, o pedagogo pode investigar se há dificuldade na formação correta das letras, erros consistentes em letras específicas, padrões de confusão de letras e a abordagem do aluno em relação à revisão e correção de sua produção escrita. Essas abordagens detalhadas e exemplos concretos auxiliam o pedagogo na identificação precisa das dificuldades de escrita do aluno, possibilitando o desenvolvimento de estratégias e intervenções personalizadas para promover seu progresso acadêmico.
Opções de Tratamento
A disgrafia é um distúrbio de aprendizagem, ou seja, não é uma doença e, portanto, não é algo que possa ser curado ou “tratado”. Assim, existem métodos para atenuar seus sinais e colaborar para uma melhora na escrita das crianças ou adultos com disgrafia. Uma medida possível é a implementação de estratégias em sala de aula que contribuam para o aprimoramento do desempenho desses indivíduos (adaptação curricular e adaptação de material). Sendo assim, a escola deve ser um ambiente acolhedor, com profissionais qualificados e preparados para lidar com essas diferenças. A troca de papeis para tipos específicos e o uso de outras metodologias, como provas orais ou o uso de teclados para digitação, também podem ajudar. A adaptação dos recursos em sala para esses alunos é indispensável para que seu desempenho acadêmico não seja prejudicado. Essas medidas devem ser mantidas ao longo de toda a vida do indivíduo, sugerindo que a sociedade como um todo seja mais inclusiva.
Os processos de adaptação na escola são personalizados e individuais, sendo impossível acharmos um modelo de adaptação para a disgrafia ou qualquer outro distúrbio de aprendizagem. A expertise da escola está em olhar o aluno de forma ímpar e avaliar, com ele, quais seriam as estratégias viáveis e funcionais para o melhor desempenho do mesmo. Desta forma, acolhemos a criança emocionalmente, com respeito e efetividade. Esse é um processo de inclusão!
Raquel Ortega
Cássia Braguieri Arroyo
Diego Henrique Coelho Monteiro
Rosilene Lúcia da Silva
Referências:
- American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5ª ed.).
- Swanson, H. L., Harris, K. R., & Graham S. (2013). Handbook of Learning Disabilities. Guilford Press.
- Lyon, G. R. (2003). Reading disability research: Thousand deficiencies of the 3- x 3-Pronged Costs. Mindset Press.
- Matson, J. L., & Dempsey, T. (2008). Focused interests and repetitive behavior in autistic disorder: A review of research trends and future directions.
Research in Developmental Disabilities, 29(2), 410-418
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